sexta-feira, 3 de novembro de 2017

NOTA DAS ORGANIZAÇÕES E COMUNIDADES TRADICIONAIS EM RESPOSTA À NOTA DE ESCLARECIMENTO DO CIP SUAPE


As entidades abaixo assinadas vêm por meio desta se posicionar a respeito da Nota de Esclarecimento divulgada no dia 31 de outubro de 2017 pelo CIP SUAPE, por ocasião do ato pacífico contra as dragagens no Porto de Suape, organizado neste mesmo dia pelas comunidades tradicionais da região.
Faz-se necessário negritar que as comunidades pesqueiras artesanais do município de Cabo de Santo Agostinho e adjacências têm suas atividades atingidas pelos impactos negativos das obras de dragagem do Complexo Portuário e Industrial de SUAPE. Já em 2012, por ocasião das obras de dragagem para aprofundamento do canal de acesso externo, os pescadores e pescadoras alertavam sobre os impactos e solicitavam maior clareza dos empreendimentos e das ações que acarretariam intervenções no meio ambiente aquático. O CIP SUAPE se comprometeu em atender às reivindicações dos pescadores na época e garantiu que toda e qualquer ação de intervenção que viesse a ocorrer na área do Porto passaria pela consulta das comunidades interessadas.
Nesse mesmo período o CIP SUAPE contratou equipe para realizar estudos de levantamento dos aspectos socioeconômicos e culturais das comunidades pesqueiras da região, bem como para levantar os impactos socioeconômicos e ambientais das intervenções realizadas por SUAPE. No entanto, tais estudos nunca foram retornados para a população ou sequer publicizados por outros meios, tampouco outros estudos relevantes sobre os impactos das dragagens foram apresentados para as comunidades da região – como exige a legislação ambiental –, muito menos discutiu-se com estas as medidas necessárias para a compensação e mitigação de referidos impactos. Tudo isso demonstra  a falta de diálogo e completo descaso com os modos de ser, viver e produzir das comunidades pesqueiras locais.
A menos de 15 dias do início de uma nova obra de dragagem no complexo, o setor de comunicação de SUAPE ligou às 09hs da manhã solicitando a presença das lideranças em uma reunião na sede administrativa de SUAPE, que aconteceria no mesmo dia, às 15hs, momento este em lideranças foram brevemente informadas que novas obras de dragagem iriam ser realizadas a partir do dia 31 de outubro de 2017.
Importa lembrar que desde 2011 tramita Ação Civil Pública iniciada pelo Ministério Público Federal a partir de representação da Colônia Z-08. Neste processo, foram comprovados diversos problemas e inconsistências no processo de licenciamento ambiental das obras de dragagem nesta região, bem como evidenciaram-se os impactos socioambientais às comunidades tradicionais, o que culminou, em outubro de 2016, na condenação pela Justiça Federal ao CIP Suape e à CPRH pelos danos socioambientais provocados às atividades pesqueiras da região.
Apesar de todos estes aspectos, SUAPE continua negando a existência das atividades produtivas e de subsistência realizadas por pescadoras e pescadores artesanais, cabendo considerar que as atuais intervenções de dragagens já estão causando, através das obras de preparação para as dragagens, o aterramento de manguezais e restinga, e ainda impactarão negativamente mais de 100 famílias de pescadoras e pescadores artesanais, especialmente as marisqueiras que desenvolvem suas atividades nas proximidades do local onde as obras serão executadas.
Necessário ainda evidenciar que as dragagens são apenas uma das várias formas de intervenções executadas por SUAPE que produzem impactos negativos ao meio ambiente, interferindo e prejudicando os modos tradicionais de ser, viver e produzir das comunidades tradicionais da região: pescadoras/es artesanais, agricultoras/es, quilombolas, posseiras/os nativas/os.
Diante disso, no que diz respeito especificamente as dragagens, exigimos que o CIP Suape paralisem tais obras pelos severos riscos que estas implicam ao meio ambiente e paisagístico natural, bem como às comunidades tradicionais pesqueiras da região. Exigimos ainda que o CIP Suape realize as audiências públicas e apresente os estudos técnicos necessários para o conhecimento das obras de dragagens e os impactos ambientais provenientes destas, e que implementem todas as medidas necessárias para que os impactos ambientais sejam reduzidos ao máximo e garantam a continuidade e existência digna e autônoma das comunidades pesqueiras locais em seu território tradicional pesqueiro.
Colônia dos Pescadores Z 08 do Cabo
Associação dos Pescadores/as em Atividade do Cabo de Santo Agostinho
Associação dos Moradores e Pescadores de Nova Tatuoca
Associação dos Moradores de Gaibu
Associação  Quilombola Ilha de Mercês - AQIM
Articulação Nacional das Pescadoras - ANP
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil – MPP
Conselho Pastoral dos Pescadores – Regional Nordeste 02
Fórum Suape – Espaço Socioambiental

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